quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

À DISTÂNCIA DE PALAVRAS...

RENATA BEIRO e OTTON BELLUCCO

Queria-te sem lábias,
sem juras casuais
tiradas de livros...
Queria-te em pele,
em cama celebrada
como pátria única...
Quero que saibas
que estou fatigada!...
Farta dos teus versos,
dos teus dolos,
da clerical túnica
como consolo!...
Tu me injurias
com tuas mentiras,
com tuas promessas
não cumpridas;
se me negas teus lábios;
se apenas me ofertas
jogos de palavras
sem corpo, sem alma...
Então, o que me legas?...
O assombro da inexistência;
a distância que me refrigera;
a inclemente ânsia
que me dilacera
ao perceber
tua verve desalmada,
saturnal, destituída
de amor sincero...
Se amo, é amor e basta!...
O que há num verso?
Não tem braço, pernas,
nem parte alguma
de uma pessoa...
Sê mais que palavras!
Tenha alguma alma
que eu possa ferir
com vitupérios!...
Ai, oco de sentimentos!
És desperdício de pele,
ar, espaço e tempo!...
A ti não mais me consagro
ou apelo por aconchego.
O amor não é expresso
ou suportável
por frases tolas
que aventam lábios
que desconhecem
a perfeição contida
no céu da boca...

Arte: Otton Bellucco

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